Hoje,
eu tenho uma confissão a fazer. Tenho que desentalar tudo o que está aqui nessa
garganta que entoou tantas canções pensando em ti. Tu, que te tornaste parte
importante de minha vida, parece não querer entender o que se passa dentro
desse coração surrado. Pareces não perceber que o tempo passa, que as folhas
voam, e que as coisas mudam. Bem... nem todas as coisas mudam.
Todo
esse tormento começou no exato mês de novembro do ano de 2009. Eu, que acabara
de ter o coração dilacerado por outra pessoa que não soube entender o que eu
sentira por ela, terminei me rendendo aos seus encantos, mas não o percebera
até o mês de fevereiro seguinte, quando, após o longo período de quase três
meses em que passamos distantes, eu já tinha percebido o quanto senti a sua
falta, e terminei percebendo o que já tinha se tornado uma questão de mera
lógica.
Não
quero me fazer de vítima, muito menos de coitado, mas as tentativas que fiz de
te dizer o que eu sentia naquela época nunca dariam certo, assim como qualquer
investida no sentido de ter teu coração junto ao meu seria fadada ao fracasso.
Reconheço que não tentei tanto quanto devia, e reconheço o quanto errei contigo
todos esses anos.
Estamos
ainda por completar quatro anos de convivência, e, desse tempo, gastei três anos
e meio te amando. Intensamente, intransitivamente, te amando. Cada dia meu
seria em vão se eu não te visse ou fizesse sorrir todos os dias. Terminei por
voltar a escrever por sua causa (e agradeço por isso), até. Músicas, poemas,
textos etc. Poucas coisas dessas, porém, eu pude te mostrar, mas de nenhuma
delas pude revelar a real destinatária. Infelizmente, o medo de perder a sua
amizade me acovardou de forma tal que meu ímpeto de realizar o maior dos meus
desejos (o de estar contigo) simplesmente desapareceu.
Sonhei,
minha amiga, durante todo esse tempo, com o dia em que estaríamos juntos final
e definitivamente. Não imaginas quantas vezes sorri involuntariamente ao
especular o dia em que dirias sim
para mim e defronte ao juiz de paz, os momentos em que eu cuidaria de ti ou que
cuidarias de mim. Infelizmente, esses sonhos desapareceram no tempo/espaço, e
não (ou ainda) existem mais. Não imaginas o quanto eu quis te fazer feliz, não
imaginas o quanto te amei. Amei, sim. Amei, mas sempre respeitei a tua decisão
de nunca fazer de mim algo mais do que seu amigo. Porque amor, antes de tudo, é
isso. É respeitar a pessoa amada.
Nunca
te condenei por nada – exceto quando começaste a namorar o meu amigo, mas isso
foi, talvez, uma loucura da minha cabeça –, e nem poderia. A escolha foi tua, e
eu não posso fazer nada para mudar o que sentes por mim. Talvez haja uma forma,
mas ainda não a descobri. Quem sabe, um dia, eu possa olhar para ti e não mais
ver uma amiga, mas a minha companheira? Não sei. Só Deus sabe.
Hoje, no
mês de março ano de 2013, olho para trás e me arrependo de tanta coisa que eu
poderia ter feito para ficar contigo, mas não pude fazer. Algumas vezes, por
falta de coragem; outras – a maioria, na verdade –, por não poder. Vejo-te
feliz, e isso, de certa forma, me deixa feliz também, mas nada tira de mim o
peso no coração de não poder estar contigo. Não sei se te esqueci; na verdade,
nem me importo mais com isso. Os anos passam, mas esse encanto que exerces
sobre mim parece não acabar. És, talvez, a figura mais maravilhosa que eu
conheci neste ambiente acadêmico, e gostaria muito de ter-te na minha vida para
sempre, de uma forma ou de outra.
Não
posso me dizer, porém, uma pessoa triste. Ver teu sorriso ainda é a minha
alegria, mas pela amizade que temos. Isso ainda é muito valioso para mim. Mesmo
assim, já pensei inúmeras vezes em sair da sua vida, sair da vida daqueles que
sempre estão conosco, para tirar-te, de uma vez por todas, da minha cabeça. Mas
essa tua bondade ainda me atrai de tal forma que sou incapaz de fazer coisa
assim. Não consigo pensar mal de ti, e acredito sinceramente que nunca
conseguirei.
Somente
o que quis de ti foi que retribuísses meus sentimentos, ainda que fosse por
somente um instante. Infelizmente, nada disso foi possível. Talvez, por razões
que eu ainda não entenda, o que todos os meus pares me dizem seja verdade: a
pessoa certa ainda não apareceu na minha vida, mas, um dia, aparecerá. Quero
poder me libertar dessas correntes que me prendem a ti, que me fazem tão
insignificante perante meus sentimentos. Qual o mal que cometi para que o que
está aqui dentro não pudesse ser gerado em ti por mim?
Um
dia, quando soube do teu primeiro namoro, eu me maldisse severamente, taxei-me
de incompetente, de imbecil, de ser inferior, por ter aquele rapaz conseguido,
em menos de um mês, o que eu demorei mais de um ano, à época, para não
conseguir. Senti-me, como outras vezes também me senti, amaldiçoado por ter que
sofrer de novo por alguém que não me correspondeu os sentimentos, mas nunca
guardei nenhum sentimento ruim por ti. Engoli a situação que estava configurara
e senti o amargor do sofrimento por ti. Ver-te, naquela época, tinha se tornado
algo torturante, desgastante; ouvir a sua voz, que um dia foi música para os
meus ouvidos, tinha virado o grito de uma harpia para os meus ouvidos.
Aguentei,
aguentei, e aguentei, mas sem esperar que um dia me amasses de volta. Aguentei
porque o amor a tudo suporta, e suportou àquelas coisas, assim como suportou o
que eu considerei, tempos depois, a traição de um amigo. Sim, eu tinha
percebido que tu e ele estavam juntos enquanto ainda tentáveis esconder de
todos – e, acredito eu, principalmente de mim – o que estava acontecendo, mas,
apesar de apaixonado, como estava naqueles tempos, nunca fui besta. Julgaram-me
um imbecil, eu presumi, mas eu nunca poderia esperar uma ação de má-fé vinda de
ti. E, talvez, nem tenhas se importado comigo, mas a docemente covarde atitude
que tivestes encheu-me de um rancor e uma amargura de uma forma que eu nunca
tinha sentido antes.
Mas,
hoje, não sinto outra coisa por ti que não seja amor. Amor de amigo ou de
amante, eu não sei, mas amor. Eu te amo desde que nos aproximamos, te amei
quando eu sofri tanto antes, e ainda te amo hoje, e vou te amar para sempre,
ainda que estejamos distantes um dia. Queria poder dizer-te tudo isso cara a
cara, olho no olho, mas o respeito por ti ainda me impede de fazer uma série de
coisas que queria fazer contigo. Ainda há muito mais a ser dito e escrito, mas
não hoje. Eu ainda te amo.
Natal, Rio Grande do
Norte, sete de março de 2013
Daniel
Augusto de Alcaniz Santos