sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

Eu nunca fiz isso, mas vamos lá.


Esse foi um ano de muitas incertezas. É impossível defini-lo em apenas uma palavra. Foi o ano em que eu mais cresci por dentro. Foi um bom ano. Poderia ter sido melhor, mas foi um bom ano.

Comecei o ano de forma bem perversa: uma doença me abateu. Uma doença não do corpo, mas da mente. Enfim... passei por cima dela e a venci. Sim, eu a venci. Graças a Deus por isso. Logo após, pouco mais de um mês, eu percebi o quanto algumas pessoas em especial são também especiais para mim. Foi aí que eu consegui ver o valor que elas tinham. Cada qual com o seu valor, é claro, mas foi algo que me abriu a mente e o coração para pessoas as quais eu nunca pensava em abrir.

E o tempo foi passando, e, mais uma vez, dúvidas me surgiram na cabeça, como se elas nunca tivessem fim. Resolvi dar cabo disso quando resolvi fazer as perguntas certas para as pessoas certas e tomar as atitudes que qualquer homem tomaria para esclarecê-las. Consegui. As respostas não foram das melhores, mas foram melhores do que as que eu esperava. Graças a Deus por isso também. Ele é Pai e sabe o que faz.

Foi com o tempo que eu reencontrei pessoas com as quais eu não tinha contato há anos. Pessoas com as quais eu nunca imaginei que falaria de novo e todas se mostraram muito boas para comigo. Passei por problemas pessoais, descobri coisas sobre mim que eu nunca poderia imaginar, fiz coisas que eu pensei que nunca iria fazer de novo.

Amei, sofri, olhei para os céus, falei com o Pai – e Ele falou comigo – diversas vezes e Ele sempre me ouviu. Muitas coisas me tomaram a mente. Muitos tormentos, raiva, angústia, impaciência, e mais coisas ruins das quais não gosto de me lembrar.

Falando em impaciência, eu aprendi a ser paciente nesse ano. Essa foi a mais preciosa lição que tive com as pessoas. Infelizmente, paciência e ansiedade são coisas que não combinam, mas estou trabalhando para que, em 2011, eu possa eliminar a ansiedade também. Eis mais um passo para alcançar a serenidade que eu quero.

Mais adiante um pouco, eu esperei retorno de uns investimentos que fiz, mas nenhum deu certo. Esse retorno que falei poderia ser a resolução, ainda que temporária, de um problema grande. Porém, ao ver que eu realmente precisava desse retorno, Deus me deu uma chance de poder tê-lo; logo após, veio outra chance. A primeira, infelizmente, eu não consegui aproveitar; a segunda, embora bem menos vantajosa, eu consegui, e vou poder ter esse retorno já em fevereiro. Glória a Deus por isso. Ele é Pai e sabe o que faz.

Chegando agora em dezembro, vejo que o ano foi bom, embora eu tenha enfrentado dificuldades e tenha encarado um pouco mais a vida como ela é. Recebi choques de realidade todos os dias. Não houve um dia sequer em que eu não estivesse quieto na minha mente. Porém, toda inquietação me levou a um estágio de crescimento interior como eu nunca tinha visto antes.

Gostaria de deixar, por fim, um recado a todos que lêem isso: que 2011 seja um excelente ano para todos nós e que nossos sonhos e projetos se realizem. Lembrem-se de que Deus é pai e sabe o que faz, porque o Pai não falha nunca. Glória a Ele por isso.


Daniel de Alcaniz

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Esperança

Esse vai ser um bom tema para escrever sobre. Como já disse, e insisto em repetir, não tenho nenhuma vocação para filósofo; então, vou tentar falar sobre esperança, e não defini-la. Este texto é dedicado à minha amiga Larissa Praxedes.


 

Esperança... vejamos, antes de mais nada, o que o dicionário diz que é: s.f. Expectativa de um bem que se deseja. Isso quer dizer: Quando esperamos que algo de bom aconteça. E realmente, quando queremos que algo bom aconteça, esperamos que aconteça. Mas, por incrível que pareça, perdemos a esperança muito facilmente e em ocasiões nas quais a falta dela nos leva a fazer besteiras imensuráveis. Posso tomar aqui, como rápido exemplo, o suicídio – que é o derradeiro estágio da falta de crença –, a desistência de algo que queremos muito, ou até mesmo a falta de fé em Deus. Quem nunca se viu sem saída? Como se nada fosse dar certo ou como se nunca nossos sonhos seriam realizados? É, meus amigos... isso acontece com todos nós e muitas vezes nem nos damos conta de que estamos deixando morrer aquela que deveria ser a última a padecer: a esperança.

A esperança não se resume apenas a uma crença na melhoria da nossa própria situação, seja em que área da vida for. Diz respeito também a esperança de um mundo melhor, a esperança de que seu amigo ou amiga passe naquele processo seletivo que ele ou ela precisa tanto passar, a esperança na cura de uma doença grave de alguém querido... são vários os tipos que não posso enumerá-los aqui. A esperança é abrangente demais para ser falada só em poucas palavras.

O que nos motiva a esperar em algo? Se tem uma coisa que eu posso realmente falar com toda certeza é que toda esperança é baseada em uma crença, e não só em uma expectativa, como o dicionário sugere. A crença e a expectativa de algum bem que almejamos, já que, mesmo que tenhamos expectativa que algo aconteça, muitos de nós muitas vezes não acreditamos que podemos conseguir aquilo que queremos e esperamos. Exemplos, eu tenho vários: quando gostamos de alguém e essa pessoa não nos quer, ficamos tristes e deixamos de acreditar que um dia podemos conquistá-la; quando fizemos vestibular e esperamos passar, mas não acreditamos que esse resultado venha, entre outros. Isso acontece porque a nossa fé, quer seja em nós mesmos – a famosa auto-confiança – ou em Deus – o famoso espera no SENHOR sem desistir, na certeza que ele não falha. A certeza que acabei de citar é a fé que temos. Quando temos certeza de que aquela expectativa pode se realizar, temos fé, e a fé é a crença.

Por fim, quero passar um recado para todos aqueles que perderam as forças para lutar pelos seus sonhos: não encarem as provações da vida com tristeza ou lamentos, e sim com esperança. A doçura da esperança pode acabar com todo o amargor da tristeza, da dor, do sofrimento. Lembrem-se do que Cristo disse em João, capítulo 16, versículo 33: Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. Para aqueles que não acreditam em Deus, lembrem-se daqueles grandes nomes da história que, mesmo com todas as adversidades, nunca deixaram morrer as esperanças nos seus sonhos. Que Deus os abençoe e que a paz Dele esteja convosco


 

Daniel de Alcaniz

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Lembrança

Por que é que, toda vez que me falam a palavra "amor", eu me lembro de você?

Daniel de Alcaniz

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O tormento de um homem apaixonado

O nosso amigo Augusto dos Anjos está triste hoje. Espero que gostem e comentem o texto. Obrigado.

São exatamente 1h47min da manhã. Estou com os olhos rasos d’água e não parece que vai parar agora. Não agüento mais essa dor aqui dentro. Preciso tirar o que sinto por ela de dentro de mim.

Já faz pouco mais de um mês que eu vi aquela cena trágica na faculdade, mas parece que foi hoje. Cada detalhe está ainda na minha cabeça. Esse tormento parece não ter fim. Por que, meu Deus, eu tive que me apaixonar por ela? Qual o motivo de o Senhor ter permitido que isso acontecesse? Eu tenho sido um grande pecador? O que eu tenho de errado?

Ontem, eu tentei ficar com alguém. Não consegui. Quando estava prestes a beijá-la, pensei: “Por que te enganas, Augusto? Ângela é de quem você gosta.” Difícil não é explicar isso a mim mesmo, mas sim à pessoa com quem eu estava que eu não queria enganá-la, que eu gosto de outra. Preciso esquecê-la ou vou continuar repetindo essa cena até o dia da minha morte.

Ângela, meu amor, por que estás com ele e não comigo? Bem... ele deve ser bem melhor do que eu; se não fosse, ela estaria comigo. Estou até afastado dela. Não sento mais perto, nem falo mais com ela. No máximo um bom dia quando cruzamos os nossos caminhos, mas nada além disso. Tem sido torturante, para mim, vê-la todos os dias e não poder chegar perto. Quando o namorado dela veio aqui na semana passada, eu tive que ficar longe deles.

Isolei-me de todos os meus amigos. Foi o melhor a ser feito, já que todos os que me têm amizade também têm por ela. Está sendo duro passar todo o tempo só na faculdade, mas é tudo por uma boa causa. Quando esquecê-la, talvez eu volte a falar com ela. Sinto-me magoado. Não por ela, mas sim por mim mesmo. Quem manda eu passar mais de um ano sem tomar atitude? Amar em segredo? Na verdade, quem manda eu amar? Era pra eu ter tentado só ficar com ela. Ser igual ao namorado dela. Talvez assim ela tivesse me dado uma chance.

O mundo não é dos bonzinhos. Tive a prova disso quando a vi com ele. Aquele safado de merda. Não vale nada, mas conseguiu a Ângela, que eu, que sempre andei na linha, não consegui. Como ela, ele já conseguiu várias, mas, como ela, eu nunca vou conseguir ninguém. Enfim...

O sol já está nascendo. Vou dormir. Talvez isso me ajude a esquecê-la. Que Deus me abençoe.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Chama

Este poema foi escrito em alguma data entre março e maio de 2006. Achei uns poemas que fiz quando tinha 14 anos. Espero que perdoem os erros de pontuação e comentem. Obrigado.

Esta chama que toma conta de mim,
que queima sem parar,
esta chama na minha alma,
que queima por dentro, que me faz cinza,
que arde em meu peito
e se esquenta ainda mais
a cada dia,
esta combustão sem fim,
que está presente na minha vida,
nas minhas noites,
nas minhas manhãs,
nas minhas tardes,
queima sem parar.
Esse incêndio que toma conta de mim,
não há água que apague,
não há terra que abafe.
Esta chama que toma conta de mim
e não apaga
se chama...
Daniel de Alcaniz

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O desestímulo de um homem apaixonado

Mais um texto do nosso amigo Augusto dos Santos. Espero que gostem.

Hoje, eu tive um dia de cão. Um dos piores da minha vida, senão o pior. Infelizmente, aconteceram coisas que eu nunca imaginei que fossem acontecer (na verdade, imaginei, mas eu nunca acreditei que poderiam acontecer comigo e a essa altura do campeonato). Foi um dia ruim. Não acredito nas coisas que vi e que fiz hoje. Infelizmente, eu estou totalmente desestimulado para viver. Após o que aconteceu, eu penso em desistir de tudo: da vida, do trabalho, dos amigos... de tudo.

Acordei, como sempre, às 5h30 da manhã. Confesso que a noite foi mal dormida porque eu devo ter ido dormir às 2h30 ou 3h da matina pensando na pessoa que amo... ela, que é tão bela, mas que nem faz idéia do que eu sinto. Não até hoje. Após pouco mais de 13 meses amando em segredo, eu contei o que sinto, mas não da forma que eu queria e imaginara, muito menos as conseqüências foram as que eu sonhara tanto.

Cheguei à faculdade, onde somos colegas, e, como sempre, falei com ela e dei um abraço – amigos fazem isso, não fazem? –, assim como perguntei se estava tudo bem com ela. Ela, porém, estava meio distante, como se algo a incomodasse. Não entendi o porquê disso, mas fingi que não havia percebido nada. Logo após, eu notei uma movimentação estranha na turma, como se algo tivesse acontecido, mas continuei fingindo que não percebi coisa alguma. Percebi também que algumas pessoas me olhavam como se a coisa que pensei que tivesse acontecido fosse comigo. Não entendi, mas continuei fingindo que de nada sabia.

Um tempo depois, notei uma pessoa chegando. Nunca havia o visto. Era alto, forte, de cabelos negros e de pele clara. Passava uma confiança incrível para as pessoas em volta dele, pois andava ereto e olhando para as pessoas. Nunca havia o visto, mas não tive bom pressentimento sobre ele. Permaneci o observando e vi que ele havia entrado na minha sala. Fui lá para ver quem é... essa foi a pior decisão que tomei na minha vida.

Eis que, ao chegar à sala de aula, eu vi a cena que eu mais temia: o rapaz alto e forte beijando a garota que eu amo, meu anjinho, que está sempre em meu coração, mas que, agora, estava nos braços dele. Não entendi o motivo daquele beijo, mas logo presumi. De repente, a tristeza que senti quis se materializar e sair dos meus olhos, mas ordenei que ela ali ficasse, pois não era momento de sair. Uma mistura de sentimentos maus entrou em meu coração: mágoa, raiva, tristeza, inveja... tudo de uma única vez em mim. Fiquei sem reação, estático, parado.

Ela, então, tratou de apresentar o namorado a todos os presentes, inclusive a mim, mas ela pareceu receosa. Disfarcei bem o que sentia e entendi, então, por que todos estavam me olhando com uma cara diferente: todos sabiam que ela estava namorando e que ele estaria ali hoje, mas ninguém quis me contar. Entendo, já que ninguém queria me magoar. Cumprimentei-o e disse que ele é um cara de sorte, que ele cuidasse bem dela. A hipocrisia quis me manter naquele lugar, mas, alguns segundos depois, não me contive e saí agressivamente da sala. Todos haviam percebido o que eu sentia. A minha amiga, sem entender a minha reação, foi atrás de mim, e começamos a conversar

- Guto, o que você tem? – Disse ela;

- Nada. Só não estou bem – Retruquei;

- Como assim não tem nada? Se não tivesse, não teria saído daquele jeito da sala. O que foi que aconteceu? Diga-me! Sabe que eu não gosto de te ver assim.

- Quer saber? Aconteceu, sim. Você é o que aconteceu na minha vida – disse eu;

- Como assim? – Ela disse, e eu, já que não tinha mais nada a perder ou ganhar, disse: - Você, Ângela. Eu sou apaixonado por você há mais de um ano e você não percebeu isso.

- Sério?

- Sim, e sempre soube que você não me correspondia os sentimentos. Amei em segredo todo esse tempo. Olha, Anjinha... eu te acho incrível. Você é tudo o que eu sonhei pra uma namorada: é inteligente, madura, extrovertida, gosta de conversar comigo, é divertida, tem um caráter excepcional, se importa com as causas sociais, e, como se não fosse o bastante, ainda é linda. Desde que entramos aqui na faculdade que eu gosto de você e você nunca percebeu. Mas, pelo visto, você não me corresponde. Tem um melhor do que eu lá te esperando. Por que você está aqui enquanto devia estar com seu namorado?

- É que eu gosto muito de você, Guto. Mas, infelizmente, só podemos ser amigos como sempre fomos. Eu desconfiava que você sentisse algo a mais por mim antes, mas não tinha certeza. – disse ela em um tom de tristeza também, pois podia perder um grande amigo e porque me estava fazendo sofrer – Eu não estou com meu namorado agora porque eu te vi triste e você é meu amigo. Não poderia te ver triste sem ver o que tá acontecendo. Pelo visto, eu sou a razão do seu sofrimento;

- Não, Ângela – respondi –, você é o motivo das minhas maiores alegrias. – Enquanto dizia isso, eu não consegui segurar mais meu choro – Você é a melhor coisa que me aconteceu na vida. Eu te amo tanto, Anjinha... é uma pena que não possamos ficar juntos, como sempre sonhei. Lembra-se daqueles poemas que te mostrei?

- Sim, me lembro. São lindos. – Respondeu ela, e eu falei: - Foram todos escritos para você. Cada verso, cada estrofe, cada redondilha. Tudo pensando em você, e tudo foi em vão. Vá para o seu namorado. Eu me conformo e reconheço minha derrota. Apenas me deixe aqui para que eu possa ficar só um pouco. Vou superar isso tudo. Você vai ver. Não quero perder sua amizade, mas, por favor, deixe-me afastar de você por uns dias ou semanas. Se for para ainda sermos amigos, é melhor que não o sejamos por enquanto. Estou sofrendo muito agora. Não quero que você fique pior do que está.

Ela disse que eu agisse da forma que achasse melhor, mas vi o pesar nos olhos dela. Ela me magoou e sabe disso. Dói em mim também fazê-la sentir-se mal, mas é assim que tem que ser. Ter que conviver com ela agora vai passar a ser uma tortura. Poder vê-la, mas ter que me afastar para poder esquecê-la é uma idéia que ainda dói demais em mim. Não queria me afastar da Ângela, mas vou ter que fazer isso. Tudo por causa de um bonitão fortão e com pinta de playboy que apareceu do nada. Sempre tentei ser um cara legal pra ela e o que ganho em troca? Sofrimento. Não quero nem saber o nome dele, mas hoje vi que, não importa a ocasião, quando um cara legal e um safado estão disputando um contra o outro a mesma garota, o safado sempre leva a melhor. Será que vou ter que virar isso, meu Deus? Ajude-me!

Enfim... Isso já está tomando a minha mente desde as 10h da manhã. Já são 3h30min da madrugada. Preciso ir dormir. Que Deus me abençoe.

Daniel de Alcaniz

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Metade

Vai aí agora um poema de um grande cantor e compositor tupiniquim. É um dos melhores que eu li até hoje e é de uma simplicidade incrível. Não obstante, é também de uma profundidade igualmente incrível

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

domingo, 5 de dezembro de 2010

Noite de um Homem Apaixonado

Estou aqui para colocar mais uma prosa de minha autoria. Dessa vez, eu vos apresento Augusto dos Santos: um rapaz apaixonado. Estou dando início a outra série de textos, mas, desta vez, será com o mesmo personagem, que é um homem apaixonado. Espero que gostem e que comentem. Obrigado

São 3h da manhã e eu estou aqui acordado. Isso tem sido normal nos últimos 13 meses. Eu me apaixonei e não consigo esquecer essa pessoa que agora mora dentro de mim. Não que eu tenha que esquecê-la, muito pelo contrário. Eu simplesmente não estou disposto a isso. Quero apenas viver o que sinto. Estou pensando nela desde a hora em que acordei.

É engraçado. Eu e ela somos próximos, mas só eu é que sinto algo mais do que aquele carinho de amigo que ela sente por mim. Antes que me perguntem, eu já respondo: Sim, eu amo em segredo, e não quero que ela saiba... Não ainda.

Ela é maravilhosa, sabe? É um anjo. Não conheço no mundo inteiro uma pessoa tão extraordinária como ela. Quando a vejo, uma amálgama de sentimentos bons me invade o coração como uma torrente do rio Sena – sim, eu me vejo com ela em Paris caminhando de mãos dadas pela Champs-Elysées –; quando não estou com ela, só faço sonhar e suspirar. Apesar de não estar com ela (não mais do que como um amigo), eu me sinto bem. Ela tem algo que me completa, que me satisfaz só com a sua presença. Cada característica dela me conquista: a beleza, o caráter, as atitudes, o jeito, o cheiro, a voz... Cada detalhe.

Nos meus sonhos à noite, eu vejo a mim e ela nos beijando, apaixonados. Não preciso dizer que acordo feliz. Às vezes, eu tento dormir de novo só para poder continuar a sonhar. Nossa... Como eu a amo! Por que é que a gente não pode gostar só de quem gosta da gente? Não que eu sofra por ela. Eu só queria ser correspondido. Estar apaixonado por uma amiga... que coisa!

Já são 4h15min da manhã e ainda estou aqui, pensando nela. Já ouço alguns passarinhos a cantar. A passarada, inclusive, sabe do que eu sinto por ela. Ou será apenas coincidência de que, toda vez que vejo meu Anjinho, ela canta euforicamente? Ou então, também ao vê-la, o mundo ande mais devagar? Será que a natureza inteira sabe do que eu sinto? O Tempo, o Vento, os Animais... Tudo? Será que todos eles vão conspirar ao meu favor? Se sim, queria pedir um pequeno favor ao tempo: que tu, que és o pai da sabedoria e da verdade, passes mais devagar quando eu estiver com ela, pois sequer te vejo passar quando dela estou perto.

Já vejo o Sol subindo no Leste. É hora de ir dormir. Passei mais uma noite em claro pensando nela, mas quem disse que me sinto mal por isso? Sinto-me bem pensando nela. É como se todos os meus problemas sumissem de uma única vez. Ela é tudo. É o que mais amo na vida, a pessoa com quem quero estar e envelhecer junto. Eu a amo, a amo, a amo. Tudo o que queria dizer para ela é: Eu te amo, meu pequeno anjo. Meu anjinho.


Daniel de Alcaniz

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Flauta-Vértebra

Este poema não é meu, mas eu acho bem interessante:

[Prólogo]
A todas vós
que já fostes ou que sois amadas
como um ícone guardado
na gruta da alma
qual uma copa de vinho
à mesa de um banquete
ergo meu crânio repleto de versos.

Freqüentemente me indago:
talvez fosse melhor
dar à minha vida
o ponto final de um balaço.
Todavia
hoje
dou meu concerto de despedida.

Memória!
Junta na sala do cérebro as fileiras
das inumeráveis bem-amadas.
Derrama o riso em todos os olhos!
Que de passadas núpcias
a noite se paramente!
Derrama alegria em todos os corpos!
Que ninguém possa esquecer esta noite.
Hoje tocarei a flauta
de minha própria coluna vertebral.

1.
Meu passo esmaga ruas e verstas.
Que fazer, com o inferno no peito?
Que Hoffmann celestial
te pôde inventar, maldita?
Alegria tempestuosa invade as ruas.
A festa transborda de gente feliz.

Eu medito.
Os pensamentos, coágulos de sangue,
enfermos, ardendo,
porejam de meu crânio.
Eu,
criador de tudo que é festa,
não tenho com quem ir à festa.
Agora mesmo irei atirar-me
de cabeça
no empedrado da avenida Nevski.
Eis aí. Acabo de blasfemar.
Por toda a parte
andei dizendo que Deus não existe
e Deus, de tórridas profundezas,
fê-la sair,
aquela diante de quem
a montanha se perturba e treme,
e me ordenou: Ama-a!

Deus ficou contente.
No fundo do abismo
que há sob o céu
um homem atormentado
como um selvagem definha.
Deus esfrega as mãos.
A si mesmo diz:
Hás de ver, Vladímir!
E ainda, ainda lhe ocorre,
para que ninguém possa adivinhar quem és,
a invenção de te dar um verdadeiro marido
e de pôr sobre o piano música humana.
Se, de repente,
assomasse à porta de teu quarto,
faria o sinal-da-cruz sobre as cobertas –
eu sei
sentir-se-ia um cheiro de lã chamuscada,
fumaça sulfurosa da carne do diabo.

Em vez disso me vou
horrorizado
de que te tenham levado para te amar.
Entro pela madrugada
talhando gritos em versos
ourives já quase louco.
Ou então: a jogar cartas!
De vinho
encher a goela do coração resseco
de gemer.
Não me fazes falta!
Não quero!
Dá tudo no mesmo.
Sei
que me despedaço.

Se é verdade que tu existes,
Senhor,
Senhor Deus,
se és tu que teces o manto das estrelas,
se este sofrimento
cada dia maior,
se este martírio
por ti me foi enviado,
Senhor,
põe-me então as cadeias de condenado.
Aguarda minha visita.
Serei pontual.
Não me atrasarei nem um só dia.
Escuta,
Supremo Inquisidor.

Lábios cerrados,
nem um grito soltará minha boca
mordida até sangrar.
Amarra-me a um cometa,
como à cauda de um cavalo
e chicoteia!
Que meu corpo se estraçalhe
nos dentes das estrelas.
Ou então: quando minh’alma migratória
franzindo o cenho carrancudo
estiver diante de teu tribunal,
atira a Via-Láctea,
faz dela uma forca
e dependura-me se quiseres,
qual um criminoso.
Faze o que quiseres.
Preferes me esquartejar?
Eu mesmo te lavarei as mãos,
a ti que és justo.
Mas – ouves? –
afasta de mim aquela maldita,
aquela que tu fizeste minha amada!

Meu passo esmaga ruas e verstas.
Que fazer, com o inferno no peito?
Que Hoffmann celestial
te pôde inventar, maldita!
Wladmir Wladmirovitch Mayakovsky

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Justiça

É um tema difícil, mas vou tentar falar dele. É imprescindível para um aluno de Direito pensar nesse assunto, então, vou tentar falar um pouco disto: a Justiça. Este texto é dedicado aos meus colegas de curso e a Deus, que, como diz meu nome, é meu Juiz. Quero dizer de antemão que eu não vou tentar conceituar justiça, nem o que deve ser uma pessoa justa.

Justiça é um conceito difícil. Os romanos diziam que é dar ou deixar a cada o que é seu por direito. Eu, embora não tenha vocação para filósofo, costumo concordar com isso e ainda dizer que ser justo é tratar os iguais de forma igual e os desiguais de acordo com as suas desigualdades (não sei por que eu acho que copiei isso de algum lugar). A justiça tem alguns requisitos essenciais: ética, racionalidade – não significa ser frio, mas sim ter parcimônia nos sentimentos –, saber ouvir, ponderação, enfim... Não é qualquer pessoa que é ou pode ser justa. Infelizmente, é para poucos ser justo sempre. Afinal, basta estar um desses requisitos em falta, ainda que só momentaneamente, para que sejamos injustos.

O que é uma pessoa ética? Costumo dizer que é ética a pessoa que se mantém reta durante a sua vida, sempre com honestidade e bom caráter, tranqüilidade e tratando as pessoas da forma tal qual elas merecem. Reta e honesta porque a honestidade é uma característica de uma pessoa que costuma dar o que é de cada um sem procurar o interesse próprio, inclusive, às vezes, prejudicando-se a si mesmo para que tudo aconteça de forma que todos recebam ou deixem de receber o que é devido a cada. A honestidade deve estar presente todos os dias de nossas vidas. Desde quando achamos aquela "nota" de dois reais no chão até mesmo quando ocupamos altos cargos da administração pública ou privada, cargos políticos e, principalmente, cargos do judiciário – é claro. Se queremos justiça, ela deve começar por quem tem o dever de fazê-la. Tranqüila porque a tranqüilidade nos permite enxergar a melhor opção a seguir sem que nos deixemos cegar pelos sentimentos exacerbados. Às vezes, em um momento de raiva ou de tristeza, podemos fazer coisas desonestas ou antiéticas contra aqueles que nos fizeram mal. A alegria também pode nos cegar, já que a euforia, assim como a tristeza e a raiva, tem a capacidade de nos fazer tomar ações precipitadas, e a justiça não pode ser feita com atitudes precipitadas ou impulsivas. A pessoa ética trata os seus semelhantes da forma que cada um merece porque a honestidade e a idéia de equidade que o ético tem o fazem agir de forma justa com todos: desde o melhor amigo até o pior inimigo. Isso não quer dizer que será sempre benevolente com o amigo e mau para com o inimigo. Somente que, nos momentos certos, cada um receberá do ético, que é justo, o tratamento recebido.

Por que motivo o justo precisa ser racional? Simples: emoções demasiadamente fortes nos cegam a visão e o pensamento. Racionalidade não significa a frieza de uma montanha do Himalaia, mas sim o equilíbrio entre os sentimentos e o uso da mente. Uma pessoa racional não costuma colocar os sentimentos à frente dos seus olhos. Se assim o fizesse, seria quase sempre injusto, já que, conforme disse antes, os sentimentos veriam o mundo em vez dos seus olhos. Apenas os ouviria falar, mas não veria nada à sua frente, pois os sentimentos exacerbados o cegaram. A partir do momento em que é colocada a razão à frente dos sentimentos, o justo pode usar do que seus olhos podem ver para fazer seu julgamento acerca das situações da vida, até mesmo de situações em que será necessário o uso da ética já citada acima. Racionalidade significa, portanto, o uso do raciocínio da cabeça no lugar do raciocínio dos sentimentos, tanto os bons quanto os ruins, mas não a ausência destes. Há certos casos em que o coração deve falar mais alto, mas não é sempre, nem a regra geral.

Para que a justiça seja feita, temos que saber ouvir. Ouvir é importante. Muitas vezes, quando estamos tristes demais ou muito raivosos, ou autoconfiantes demais, ou até mesmo em estado de euforia, deixamos de dar ouvidos aos outros, deixamos de ouvir o que está à nossa volta. Saber ouvir, no entanto, não significa somente captar o que vem dos ouvidos, mas também o que os olhos vêem e o que o coração sente. Estes dois últimos, entretanto, nem sempre concordam. Quando estamos no meio de um conflito, precisamos ouvir bem as partes para resolver o problema da forma mais correta; quando alguém nos magoa ou nos faz mal, precisamos ouvir o que as levou a fazer o que fizeram; quando algo nos deixa perplexos, precisamos ouvir e ver o que foi que aconteceu para que a situação que vivemos chegasse a esse ponto. Saber ouvir, então, seria perceber bem o que acontece à nossa volta para podermos ser justos.

O que dizer de uma pessoa ponderada? Primeiro, precisamos ver o que significa isso: s.f. Ato de ponderar; reflexão; caráter de uma pessoa bem equilibrada, calma.
Placidez, serenidade, tranqüilidade.
Tendo essa definição, podemos dizer que uma pessoa ponderada é uma pessoa que reflete seus atos, é serena e equilibrada. Uma coisa bem parecida com uma pessoa racional. Ser ponderado tem a ver com ouvir, ser racional e ético; ou seja, é o mais difícil de ser sempre. É, de todos os requisitos, o mais frágil. Deixamos de ser ponderados quando estamos sob forte carga emocional, seja ela boa ou ruim. O que tem a ver a ponderação com os outros três conceitos anteriores? Costumo dizer que a relação da ponderação com a ética diz respeito ao bom caráter do ponderado; no que concerne a racionalidade, costumo dizer que tem a ver com a não precipitação dos atos de uma pessoa ponderada; e, por fim, a relação com saber ouvir diz respeito a ver o que as partes de um conflito dizem para garantir aquilo que se acham no direito de ter – se boa a ponderação, o juiz ou qualquer outra pessoa que esteja no meio de um conflito, seja entre outros ou consigo mesma, tomará uma boa decisão sobre o que está em xeque.

Por fim, analisando tudo o que eu escrevi acima, posso dizer que uma pessoa justa é realmente ética, racional e ponderada, mas também sabe quando usar suas emoções para julgar algo ou alguém. Apesar de a idéia de julgar pessoas não me agradar muito, todos nós fazemos isso sempre, embora muitas vezes inconscientemente. Quero terminar dizendo que o justo é um abençoado por Deus. Nesse mundo cheio de individualismo, é difícil colocar interesses próprios atrás do sentimento de justiça. Bem-aventurados sejam os que são assim. Que Deus os abençoe.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ana Luíza

Hoje, coloco a letra da minha canção favorita de um dos mestres da Bossa-Nova. Não sei o que ele tinha com o nome Luíza, mas as músicas dele que continham esse nome são as mais bonitas que ele fez.

Suponho
Ana Luiza
Se a guarda cochila
Eu posso penetrar no castelo
E galgar a muralha de onde se divisa
O vale, os prados, os matos, os montes,
as flores, as fontes, Luiza

Ana Luiza
Eu fiz esta canção pra você
Que pergunta precisa saber
Onde anda Luiza
Luiza
Luiza
Luiza
Por quê me negas tanto assim a primavera?
Se sabes que a última quimera
Existe no mundo de Ana Luiza

Primavera, Ana Luiza
Teus olhos
Em que lago, em que serra, em que mar se oculta?
Escuta, Luiza
Na brisa uma canção fala em você
E pergunta insiste em saber, onde anda Luiza
Luiza
Luiza
Luiza
Luiza

Eu te amo tanto
Quem há de resistir a todo encanto
Que existe, assiste, em Ana Luiza

Antônio Carlos Jobim

domingo, 14 de novembro de 2010

Me deixas louca

Como ando sem escrever muito, vou colocando algumas músicas que gosto bastante. Agora coloco a que eu mais gosto da Elis Regina:

Quando caminho pela rua lado a lado com você
Me deixas louca
E quando escuto o som alegre do teu riso
Que me dá tanta alegria
Me deixas louca

Me deixas louca quando vejo mais um dia
Pouco a pouco entardecer
E chega a hora de ir pro quarto escutar
As coisas lindas que começas a dizer
Me deixas louca

Quando me pedes por favor que nossa lâmpada se apague
Me deixas louca
Quando transmites o calor de tuas mãos
Pro meu corpo que te espera
Me deixas louca

E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas
Desaparecem as palavras
Outros sons enchem o espaço
Você me abraça, a noite passa
E me deixas louca

Armando Mazanero

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Falando de amor

Essa é a letra de uma das minhas músicas favoritas da Bossa Nova. É uma obra-prima de um mestre da música brasileira

Se eu pudesse por um dia
Esse amor, essa alegria
Eu te juro, te daria
Se pudesse esse amor todo dia
Chega perto, vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro canção
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
Chora flauta, chora pinho
Choro eu o teu cantor
Chora manso, bem baixinho
Nesse choro falando de amor

Quando passas, tão bonita
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
E eu me esqueço até do futebol
Vem depressa, vem sem medo
Foi pra ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro canção
Lá no fundo do meu coração

Antônio Carlos Jobim

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A Lua No Céu

Bom... aqui vai meu mais recente poema. Comentem, por favor. Não importa se é pra criticar ou pra elogiar.


 

A lua está no céu.

Alvinitente, bailando no ar,

Reflete a sua imagem no mar,

Fico sem saber para onde olhar

Se tanto o céu como o firmamento me encantam

E as estrelas se tornam coadjuvantes na pintura.


 

Queria eu poder fazer uma escada.

Uma escada para poder alcançá-la,

Estar no céu e tocá-la,

Sentir tua boca e beijá-la.


 

Falarei à passarada que me carregue

Para o céu e me leve até a lua.

As estrelas serão testemunhas

Do amor que cantarei na rua.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Neologismo

Eu não gosto muito de poesia moderna, mas gosto muito desse poema. É simples e tem muito conteúdo nele:


Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

Manuel Bandeira

domingo, 7 de novembro de 2010

O Amor

Estou dando início hoje a uma série de textos que vou escrever. Cada um em homenagem a uma pessoa diferente da minha vida. Esse primeiro é dedicado a Pequena. Inicio com esse sobre aquilo que mais gosto de escrever: O amor.


Ah, o amor... Aquele sentimento que nos faz suspirar, nos faz querer ser melhores, nos faz sonhar, que faz nossos corações baterem mais intensamente, que nos faz doar a nós mesmos... Enfim. O sentimento que nos faz ter reações inúmeras em nossos corpos. O amor é igual à Hidra de Lerna: tem várias faces, várias cabeças. Aqui nesse texto, porém, irei tratar apenas da cabeça central, a maior e mais conhecida de todas: o amor entre o homem e a mulher.

O amor, acredito eu, é o sentimento mais forte que alguém pode ter dentro de si. Ele envolve todos os outros sentimentos da nossa mente: tristeza, angústia, raiva, alegria, prazer, entre outros. Afinal, quem nunca se entristeceu por causa daquela pessoa por quem nos apaixonamos? Por aquela pessoa que não te correspondeu? Há ainda alguns que amam, mas não podem estar juntos da pessoa amada – é o caso das pessoas que se gostam e que não podem estar juntas –, assim como há aqueles que ficam felizes ao ver um sorriso no rosto de quem gostamos, e outros que fazem de tudo pela felicidade da sua amada (ou do seu amado) e que se alegram no simples fato de estarem fazendo bem àquela pessoa. Há aqueles que se doam por inteiro à pessoa amada sem nem pensar nas conseqüências, não se importando se são correspondidos ou não – sem medo de se machucarem (esses são os mais raros).

E que tipos de amantes existem? Eu costumo dividir em dois tipos: os amantes fugazes, que sentem algo intenso, mas geralmente não sólido, e os amantes moderados, que se apaixonam geralmente com a convivência, que sentem algo ora intenso, ora não intenso, mas que é muito sólido e que não surgiu do nada, tendo sido esse sentimento construído dia após dia. O primeiro acontece mais nos filmes, nas peças de teatro e na literatura romântica. Embora aconteça também com freqüência na vida real, ao contrário dos filmes e livros, o amor fugaz na vida real não é tão intenso ou tão profundo quanto aquele que acontece na ficção. O caso mais célebre na literatura de amor fugaz é o de Romeu e Julieta. O simples fato de o amor ter surgido do nada faz o amante se decepcionar com maior facilidade. Entretanto, é o que tem mais chances de dar certo. Por ter sido fruto de uma atração pré-estabelecida, as intenções de ambos os amantes ficam claras antes de a relação iniciar-se. O segundo, no entanto, criado pela convivência entre duas pessoas, embora geralmente seja mais sólido e mais profundo (porém, às vezes, não tão intenso), é o que tem menos chances de dar certo.

Quem lê deve ter percebido que eu não coloquei intensidade, solidez e profundidade do amor no mesmo conceito. Me sinto, é claro, na obrigação de explicar o porquê. Não se deve confundir intensidade, solidez e profundidade do amor. O amor pode ser intenso, mas não sólido, nem profundo, e vice-versa. O primeiro caso acontece freqüentemente com pessoas que sentem o amor fugaz. Acham que encontraram, de repente, o amor da vida delas, e que nada vai acabar esse sentimento, ou que ele vai durar para todo o sempre (isso acontece muito na adolescência). Depois de algum tempo, porém, essas mesmas pessoas vêem que o sentimento não resistiu a algumas decepções, ou então às primeiras dificuldades de um relacionamento. Se dão por conta de que não amavam tanto quanto pensavam que amavam. A paixão fugaz tem o poder de nos iludir e fazer-nos pensar que o sentimento é maior do que o que ele realmente é, tal como numa ilusão de ótica. Não quero dizer com isso que a intensidade do sentimento não é importante. O que quero dizer é que não adianta o sentimento ser intenso e não ser sólido.

É possível também que o sentimento não seja tão intenso assim, mas seja muito sólido ou muito profundo. É o caso dos amantes de longa data, das pessoas que estão casadas há anos e ainda se amam, dos namorados que querem se casar, etc. Essas pessoas com certeza não suspiram de amores como um adolescente fugazmente apaixonado, mas sentem que a pessoa amada é aquela que ela quer para o resto de suas vidas. Esse tipo de amor é o que sobrevive a mais provas, mais dificuldades. Não quero dizer com isso que os amantes não sintam o coração bater mais forte ou aquela vontade de estar junto da pessoa amada, e sim que esse é o tipo de sentimento é mais duradouro, equilibrado, mais parecido até com o amor que a Bíblia descreve em I Coríntios, capítulo 13. Embora a definição Bíblica tenha mais a ver com o conceito lato sensu de amor, podemos sim fazer essa analogia: O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. É o que muita gente costuma chamar de "amor verdadeiro". Ou ao menos dá uma idéia do que ele seja.

Apesar de ser um sentimento que costuma dominar a pessoa que o traz consigo, o amor não pode se separar da inteligência de quem ama. Mesmo no afeto, é preciso ser inteligente. Tanto antes como durante e depois dele. Principalmente durante e depois dele. Embora o amor seja um sentimento que nos traga a vontade de melhorar como pessoas ou de se doar à pessoa amada, é bom que sempre seja mantida a temperança para que o que é mel não comece a lambuzar a pessoa amada. É o que chamamos de ser "meloso" (vide a saga Crepúsculo). Tudo em demasia faz mal e o amor não está excluso disso. Parcimônia deve ser a palavra de ordem para tudo que fazemos e sentimos na vida. Amar com inteligência é saber quando o amor deve nos guiar e até onde ele pode nos dominar. Quem consegue amar com inteligência, aliando um ao outro, acha a verdadeira essência de amar – e geralmente quem ama de forma fugaz não consegue ser inteligente enquanto ama. Às vezes, no entanto, é melhor que nos deixemos guiar por nossos corações, pois, nos dizeres de Antoine de Saint-Exupéry, só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

Não vou entrar no mérito de tentar diferenciar amor, paixão e desejo porque acho que já existe muita gente boa por aí muito mais capaz do que eu de diferenciar os três. Como disse em um texto anterior, não tenho vocação para filósofo.

Por fim, quero dizer que, não importa o tipo de amante que sejamos, nós sempre pensamos que lidamos com um ser perfeito, livre de defeitos. Alguns, porém, conseguem enxergar defeitos nos seus amados. Mesmo assim, ainda amam, porque, ainda que não lidem mais com seres perfeitos, esses amantes amam os defeitos dos amados – isso é raro, mas acontece. Entre os tipos de amor que existem, eu preferi descrever os tipos de amantes. Em outra oportunidade, eu tentarei diferenciar os tipos de amor, sem falar dos tipos de amantes. Quero terminar citando o maior dos escritores ingleses, William Shakespeare: "O louco, o enamorado e o poeta são filhos da imaginação. Um vê mais demônios do que aqueles que o inferno pode conter: é louco. O apaixonado, igualmente frenético, vê a beleza de Helena num frontispício egípcio; o olhar do poeta, esse, animado por um belo delírio, transporta o céu para a Terra e a Terra para o céu". (Sonhos de uma noite de verão)

Versos Íntimos

Hoje, vou colocar mais um poema. Desta vez, não é meu. É um poema que meu avô gosta muito e que eu gosto também. É de um dos maiores poetas que o Brasil já teve. Espero que gostem.


Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Constelação

Antes de mais nada, quero dizer que esse é meu poema mais recente. Comentem. Não importa se é para elogiar ou criticar. Só preciso da opinião de vocês.


Vi, no céu, à noite, uma constelação.

Nessa constelação, constavam estrelas.

O brilho delas, alvo, intenso, constante,

Iluminou-me o olhar no sereno,

Fez lembrar-me de ti num instante.


Estava eu à sombra da escuridão do firmamento.

Ao lembrar-me de ti, vi as estrelas formarem um desenho.

Que desenho é esse? – Perguntei a mim mesmo.

Não consegui identificar, mas senti, do coração, os batimentos

E um bom pressentimento.


A lua observava de sua morada a dança suave das estrelas.

A tramontana, minha guia, perdeu-se no baile celestial;

A lembrança de ti guiou-me o entendimento,

O desenho ficou claro no firmamento,

Quando a dança finalmente terminou, eu vi:

Foi teu nome que vi naquele momento.

Durante um temporal

Hoje, não vou colocar nada meu. Me lembrei do meu poema favorito, que tem quase 200 anos que foi escrito.


VAI FUNDA a tempestade no infinito,
Ruge o ciclone túmido e feroz...
Uiva a jaula dos tigres da procela
— Eu sonho tua voz —


Cruzam as nuvens refulgentes, negras,
Na mão do vento em desgrenhados elos...
Eu vejo sobre a seda do corpete
Teus lúbricos cabelos ...


Do relâmpago a luz rasga até o fundo
Os abismos intérminos do ar...
Eu sondo o firmamento de tua alma,
À luz de teu olhar ...


Sobre o peito das vagas arquejantes
Borrifa a espuma em ósculos o espaço...
Eu — penso ver arfando, alvinitentes,
As rendas no regaço.


A terra treme... As folhas descaídas
Rangem ao choque rijo do granizo
Como acalenta um coração aflito,
Como é bom teu sorriso,....


Que importa o vendaval, a noite, os euros,
Os trovões predizendo o cataclismo...
Se em ti pensando some-se o universo
E em ti somente eu cismo...


Tu és a minha vida ... o ar que aspiro ...
Não há tormentas quando estás em calma.
Para mim só há raios em teus olhos,
Procelas em tua alma!

Antônio Frederico de Castro Alves

sábado, 30 de outubro de 2010

Pessoas Especiais

    Ontem foi um dia especial para mim. Hoje também é. Ontem foi porque foi o aniversário de uma amiga muito querida minha chamada Juliana Lemos; hoje, porque é o aniversário de Dona Sandra, minha mãe.

    Sinto muitas saudades da minha amiga querida dos tempos de colégio. Ela é uma pessoa sem precedentes na humanidade. Sempre disposta a me ajudar e a ajudar a qualquer pessoa na face da Terra. Tem um jeito doce e um caráter ímpar, além de uma paciência de Jó (para me agüentar, só pode ter uma paciência dessas). Não sei por qual motivo eu amo tanto essa pessoa, nem por que eu sinto que ela vai estar presente em toda a minha vida. Ju, que todas as graças do mundo sejam derramadas em você.

    Minha mãe faz aniversário hoje. Ela me criou sozinha e passou por várias coisas por mim e minha irmã. Como estou mais liso do que pau de sebo, essa é a homenagem que estou podendo fazer a ela no dia em que ela completa 46 anos (mas parece ter 36). Que Deus sempre nos abençoe, mãe!

    Sem muito pra escrever, só queria deixar essa homenagem singela para essas duas pessoas especiais da minha vida. Mais tarde, talvez, eu coloque o texto que queria escrever hoje.

sábado, 23 de outubro de 2010

Serenidade

Hoje, eu estou aqui para mudar um pouco o estilo do blog. Não deixarei de postar poemas, mas, como está cada vez mais rara a possibilidade de escrevê-los, resolvi me aventurar na prosa. Esse é o primeiro texto de (espero) muitos. Espero que gostem.

Serenidade... é uma palavra difícil de conceituar, assim como também é difícil de sentir. Alguns dizem que é um estado de tranqüilidade, paz de espírito; outros acham que é a capacidade nossa de conviver bem com os problemas do dia-a-dia. Eu, porém, não tento conceituar isso. Não tenho vocação para filósofo.
A bem da verdade, acredito sinceramente que ser sereno é saber lidar com tranqüilidade com as coisas ruins que acontecem em nossas vidas. Capacidade de saber manter a calma em situações de tristeza extrema, ou de conformidade com certas situações desagradáveis. Uma pessoa serena por natureza pode sim ficar triste com algumas coisas que acontecem consigo, mas sabe lidar com isso. Infelizmente, para nós, não é sempre possível ser sereno. Há momentos na nossa vida em que nos irritamos com coisas tão bestas, mas que nos afetam tanto, como se o mundo fosse acabar neste instante ou como se a situação nunca fosse acabar. A minha experiência de vida, embora não seja tão extensa, mas seja intensa, me mostrou como tentar alcançar a verdadeira serenidade, a sempre relevar as coisas que fizeram contra mim, embora apenas culposas muitas delas, mas que afetaram a mim um dia. Aprendi, então, a manter a calma sempre.
A serenidade, como bem disse Epícuro de Semos, não deve ser apenas para nós mesmos, mas também para os outros que nos rodeiam. Uma pessoa serena passa confiança aos outros, é justa, equilibrada, temperada em seus atos, sensata, capaz de passar por cima de todos os sofrimentos e depois, mesmo após enfrentá-los, sorrir e olhar pra frente para ver o horizonte. Li uma vez que todo sofrimento recebido com serenidade tem um doce-amargo que, em vez de maltratar, nos faz bem. Talvez seja essa a essência de uma pessoa serena: a capacidade de enxergar o sofrimento como uma fase da aprendizagem e tomar todas as pedras no caminho para si e, depois de tudo, construir seu castelo. Com serenidade, se passa por tudo.
Às vezes, a nossa avidez pela vitória nos tira a serenidade. Quando, ao invés disso, é encontrada a derrota em sua frente, a avidez de outrora dá lugar a uma decepção que pode tirar o sono, a alegria, o tônus do coração. Uma pessoa serena também passa por decepções? Acredito que sim; afinal, todos nós queremos vencer um dia, todos nós temos sonhos, mas as pessoas que são serenas conseguem passar pelas mais duras decepções e derrotas da vida. Sofrem também, mas têm força para superar suas dores e seguir em frente sem olhar tanto para trás.
E de onde vem a serenidade? Qual a sua fonte? De onde vem essa capacidade de sentir calma quando ninguém mais sente? Acredito, eu, que tem várias fontes: alguns já nascem assim; outros, com o tempo e a vivência, a experiência de vida; outros, da misericórdia Divina. A verdadeira serenidade vem de dentro de nós, vem de nossas experiências e de Deus (para os que não acreditam Nele, sobram apenas as duas primeiras). Vem de dentro de nós porque uma pessoa serena tem força para agüentar suas dores, suas frustrações, e, ainda assim, ainda transparecer sua calma, mostrar a sua paciência e sua temperança. Vem de nossas experiências porque uma pessoa serena tem a capacidade de ver os erros seus e de outros e ser racional para aprender com eles. Como me disse uma vez meu grande ex-professor de xadrez, Ubiratan de Lemos: no xadrez, assim como na vida, há pessoas que aprendem com seus próprios erros; os bons, com os erros dos outros. Os sábios são, por natureza, serenos, e também aprendem com os erros dos outros. Vem de Deus porque a fé Nele, não importa a denominação religiosa que seja professada, nos faz agüentar o que passamos na vida. Pedimos a Ele em nossas orações que nos dê serenidade – ainda que não usemos essa palavra – para passar por todas as privações do mundo. Como disse Cristo, “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. (João 16; 33)
Por fim, sabemos que nem sempre é possível manter a serenidade, É nesses momentos de fraqueza que vemos que temos de ser serenos, pacientes, temperados, dentre outros adjetivos que qualificam uma pessoa serena. Quando o sereno por excelência recupera sua serenidade, ele vê que tem força para enfrentar as tribulações da vida, e aprende a, quando passar por situação semelhante de novo, manter sua serenidade intacta. Sendo assim, o sereno é paciente, temperado, aprende com os erros passados, não só os seus, mas também os dos outros, tem fé e, acima de tudo, tem esperança de que tudo se resolva.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Valsemos

Vem, amor, dançar comigo,
Deixa-me sentir tuas mãos aveludadas juntas às minhas,
O teu corpo macio abraçado ao meu,
Minha boca a sussurrar palavras de amor no ouvido teu
E sentir teu coração batendo junto ao meu.

Amor meu, façamos desta noite a melhor de nossas vidas,
Deixemos as pessoas que nos olham de lado,
Pois a festa é nossa e só nós estamos aqui;
Para mim, não há outra; para ti, não há outro.
Valsemos, então, como nenhum casal jamais valsou.

Amor, és a vida em meu coração.
Realiza esta quimera de um homem inundado de paixão,
De amor, dos mais nobres sentimentos por ti.
Façamos desta noite uma noite eterna, épica,
Uma noite cuja magia não haverá igual em parte alguma do mundo.
Estar contigo é meu desejo mais profundo.

As estrelas no céu contarão à lua;
O Sol, radiante e belo, invejará a beleza de nossa dança;
Os astros celestes rememorarão este momento,
O momento em que comigo valsares,
Momento em que corresponderás ao meu sentimento.