sexta-feira, 9 de novembro de 2012

EXPLICAÇÃO DO PAÍS DE ABRIL


Aí vai um poema de um grande poeta português chamado Manuel Alegre. Nele, ele explica uma das suas criações: o País de Abril, que se acha mencionado numa das minhas músicas favoritas: Abril, na voz inconfundível de Amália Rodrigues. Espero que gostem.
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País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.

Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.

Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.

País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.

País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.

Não procurem na História que não ven na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.

País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.

Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.
Manuel Alegre

domingo, 4 de novembro de 2012

É AMAR



É um desejo que late,
É um encantamento que bate.
É um sentir-se bem em ouvir a voz do outro,
É a cada dia padecer pouco a pouco.

É sentir, só com a sua presença, todo contentamento,
É fazer-se muda a mente, falante o sentimento.
É pôr-se em estado de graça,
É andar sorrindo sem motivo pela praça.

É ferir-se, curar-se, e ferir-se novamente,
É criar quimeras, criar castelos num instante.
É erguer torres baseadas em sonhos,
É sofrer e, ainda assim, mostrar-se risonho.

É traduzir a existência em fazer-se em dois,
É pensar com candura no depois.
É conhecer a desconhecida arte de se dar,
É, em todos os sentidos, o maior sentimento,
É, então, mais e mais do que isso a definição de (te) amar.

Daniel Augusto de Alcaniz Santos