domingo, 19 de junho de 2011

POEMA DA MADRUGADA

É tarde, mas algo me tira o sono.

É como se eu vagasse pelas ruas feito um cão sem dono,

Pensando como seria se fosse diferente,

Se estivéssemos juntos agora...


E são mais de três horas da manhã no meu relógio.

Por que é que eu fico até aqui acordado a pensar em ti?

Sono, companheiro meu de todas as manhãs, onde está você?

E tu, bela dama, por que tanto te quero ter,

Se tu estás a milhares de quilômetros de distância

E não posso sequer tocar-te?


E já não me bastam os traumas passados,

Que vêm a mim, a atormentar-me, como um fantasma camarada,

Companheiro meu de todas as noites,

Que me conta aquelas (tristes) histórias de mim mesmo

Antes do meu tardio repouso, agora, vens tu, bela dama,

A querer dividir o meu tempo com meu amigo de ectoplasma,

Tendo, nos últimos dias, um êxito nunca visto por mim.


Onde estás tu, bela dama, neste exato momento?

Como posso saber o que acontece estando eu um Brasil inteiro

Distante de ti? E como podes tu estar ausente em corpo, mas presente

Em toda a minha mente? Em todo o meu corpo exaurido por meus traumas?

Sinto-te tão intensamente quanto estes, como se aqui estivesses e segurasses minha mão,

Minha úmida mão que enxuga as minhas lágrimas geradas sob a luz do plenilúnio.


Tu, bela moça, que está aqui, não saias mais,

Não deixes esse guerreiro cansado de tantas guerras perdidas

E lutadas em vão, por algo que ele acreditou ser verdade um dia.

Tem dó de mim, doce senhorita de sorriso pueril,

Que está a alumiar esta noite sombria.

Fica comigo, dá-me todo o teu mel, ainda que seja fantasiosa a tua presença

Que eu te darei esse coração que é putativamente meu,

E que, de fato, é todo teu.

Daniel de Alcaniz