quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A vida de um homem apaixonado

Dá dó de ver o Augusto. Ele anda cabisbaixo, suspirando, com o olhar triste. Ele perdeu toda a confiança que tinha em si. Desde que a sua Anjinha começou a namorar aquele rapaz alto e forte, ele está assim: patético. É como se nada no mundo pudesse levantar aquela cabeça.

Ele se afastou de todos. Todos os amigos, todos os colegas... está estranho. Pensativo, moroso, inerte. Aquele Augusto falante que conhecia não existe mais. Anda calado, como se nada na vida colocasse aquela voz estridente, retumbante, para sair da boca dele. Está muito abalado. Embora ele ache que não deixa ninguém ver, todos vêem que ele está ainda deprimido por causa da Ângela. É incrível o que o amor faz com um homem quando os seus sentimentos não são correspondidos. Com o Augusto, então, os efeitos são maiores. É uma pena que homens românticos, cujas intenções para com as suas amadas sejam as melhores possíveis, e que estão dispostos a fazer qualquer coisa, desde que não seja ilegal, imoral ou que engorde – existem os que seriam capazes até de fazer essas coisas -, não sejam bem vistos pelas mulheres. Se assim o fossem, muitos relacionamentos durariam mais e seriam melhores do que os que são vistos por aí.

Para não entrar nesse mérito, melhor falar do Augusto, ou Guto, que é o jeito que só a Ângela o chamava. Ele continua calado. Entra na sala da faculdade e não fala com ninguém. Senta-se na última cadeira da última fila do lado oposto que costumava se sentar antes de ver aquela cena que o traumatizou. O coitado se senta, pega os cadernos e começa a ler. Não sei como as notas dele não começaram a despencar ainda. Ele tenta segurar as lágrimas de vez em quando, mas já o vi duas vezes enxugando os olhos durante a aula. Enquanto isso, Ângela observa de longe. Às vezes, ela parece estar meio triste também. Eles realmente eram grandes amigos. Sempre contaram tudo um para o outro. Infelizmente, ela não o quis. Eles teriam formado um grande e belo casal.

Augusto é um bom rapaz. Pode ser que alguma garota o note. Para aqueles que não sabem quem sou eu, me apresento. Meu nome é Ilan Pinheiro. Sou amigo dele. Infelizmente, ele se afastou de mim também. Falo assim dele porque o Augusto está muito triste. Sabendo da tendência a depressão que eu sei que ele tem, temo pela vida dele. Afinal, ele passa boa parte do dia sozinho. Temo pelo que ele pode fazer. Como sou amigo da Ângela também, não posso falar com os dois ao mesmo tempo. Ele não tem muitos amigos na faculdade e, para piorar, os que ele tem são todos também amigos da amada dele.

Por fim, quero dizer que ele anda tomando remédios controlados para poder dormir. Soube que ele andava passando algumas noites em claro pensando nela. Isso não o faz bem. É uma pena que um rapaz tão bom esteja sozinho. Ele merece uma boa garota ao seu lado. Ele me disse antes de se afastar de todos que entende que ela não o queira, já que o namorado dela é bem melhor que ele – sim, ele tem uma espécie de complexo de inferioridade, também causado bela sua baixa auto-estima, que ocorreu após perder a garota que ele ama – e que o fortão a merece mais do que ele jamais a mereceu na vida. Homens como o Augusto merecem mulheres como ele. Como esse tipo de homem é raro, esse tipo de mulher também é. Eu sei que ele vai sofrer bastante ainda, e sei também que ele não merece o que está passando, mas sei também que ele vai encontrar o amor nos braços de alguém que possa correspondê-lo. Essa mulher que o quiser será a mais sortuda da face da terra, e será feliz como a Ângela jamais será com esse fortão que está com ela agora

Daniel de Alcaniz

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