segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Justiça

É um tema difícil, mas vou tentar falar dele. É imprescindível para um aluno de Direito pensar nesse assunto, então, vou tentar falar um pouco disto: a Justiça. Este texto é dedicado aos meus colegas de curso e a Deus, que, como diz meu nome, é meu Juiz. Quero dizer de antemão que eu não vou tentar conceituar justiça, nem o que deve ser uma pessoa justa.

Justiça é um conceito difícil. Os romanos diziam que é dar ou deixar a cada o que é seu por direito. Eu, embora não tenha vocação para filósofo, costumo concordar com isso e ainda dizer que ser justo é tratar os iguais de forma igual e os desiguais de acordo com as suas desigualdades (não sei por que eu acho que copiei isso de algum lugar). A justiça tem alguns requisitos essenciais: ética, racionalidade – não significa ser frio, mas sim ter parcimônia nos sentimentos –, saber ouvir, ponderação, enfim... Não é qualquer pessoa que é ou pode ser justa. Infelizmente, é para poucos ser justo sempre. Afinal, basta estar um desses requisitos em falta, ainda que só momentaneamente, para que sejamos injustos.

O que é uma pessoa ética? Costumo dizer que é ética a pessoa que se mantém reta durante a sua vida, sempre com honestidade e bom caráter, tranqüilidade e tratando as pessoas da forma tal qual elas merecem. Reta e honesta porque a honestidade é uma característica de uma pessoa que costuma dar o que é de cada um sem procurar o interesse próprio, inclusive, às vezes, prejudicando-se a si mesmo para que tudo aconteça de forma que todos recebam ou deixem de receber o que é devido a cada. A honestidade deve estar presente todos os dias de nossas vidas. Desde quando achamos aquela "nota" de dois reais no chão até mesmo quando ocupamos altos cargos da administração pública ou privada, cargos políticos e, principalmente, cargos do judiciário – é claro. Se queremos justiça, ela deve começar por quem tem o dever de fazê-la. Tranqüila porque a tranqüilidade nos permite enxergar a melhor opção a seguir sem que nos deixemos cegar pelos sentimentos exacerbados. Às vezes, em um momento de raiva ou de tristeza, podemos fazer coisas desonestas ou antiéticas contra aqueles que nos fizeram mal. A alegria também pode nos cegar, já que a euforia, assim como a tristeza e a raiva, tem a capacidade de nos fazer tomar ações precipitadas, e a justiça não pode ser feita com atitudes precipitadas ou impulsivas. A pessoa ética trata os seus semelhantes da forma que cada um merece porque a honestidade e a idéia de equidade que o ético tem o fazem agir de forma justa com todos: desde o melhor amigo até o pior inimigo. Isso não quer dizer que será sempre benevolente com o amigo e mau para com o inimigo. Somente que, nos momentos certos, cada um receberá do ético, que é justo, o tratamento recebido.

Por que motivo o justo precisa ser racional? Simples: emoções demasiadamente fortes nos cegam a visão e o pensamento. Racionalidade não significa a frieza de uma montanha do Himalaia, mas sim o equilíbrio entre os sentimentos e o uso da mente. Uma pessoa racional não costuma colocar os sentimentos à frente dos seus olhos. Se assim o fizesse, seria quase sempre injusto, já que, conforme disse antes, os sentimentos veriam o mundo em vez dos seus olhos. Apenas os ouviria falar, mas não veria nada à sua frente, pois os sentimentos exacerbados o cegaram. A partir do momento em que é colocada a razão à frente dos sentimentos, o justo pode usar do que seus olhos podem ver para fazer seu julgamento acerca das situações da vida, até mesmo de situações em que será necessário o uso da ética já citada acima. Racionalidade significa, portanto, o uso do raciocínio da cabeça no lugar do raciocínio dos sentimentos, tanto os bons quanto os ruins, mas não a ausência destes. Há certos casos em que o coração deve falar mais alto, mas não é sempre, nem a regra geral.

Para que a justiça seja feita, temos que saber ouvir. Ouvir é importante. Muitas vezes, quando estamos tristes demais ou muito raivosos, ou autoconfiantes demais, ou até mesmo em estado de euforia, deixamos de dar ouvidos aos outros, deixamos de ouvir o que está à nossa volta. Saber ouvir, no entanto, não significa somente captar o que vem dos ouvidos, mas também o que os olhos vêem e o que o coração sente. Estes dois últimos, entretanto, nem sempre concordam. Quando estamos no meio de um conflito, precisamos ouvir bem as partes para resolver o problema da forma mais correta; quando alguém nos magoa ou nos faz mal, precisamos ouvir o que as levou a fazer o que fizeram; quando algo nos deixa perplexos, precisamos ouvir e ver o que foi que aconteceu para que a situação que vivemos chegasse a esse ponto. Saber ouvir, então, seria perceber bem o que acontece à nossa volta para podermos ser justos.

O que dizer de uma pessoa ponderada? Primeiro, precisamos ver o que significa isso: s.f. Ato de ponderar; reflexão; caráter de uma pessoa bem equilibrada, calma.
Placidez, serenidade, tranqüilidade.
Tendo essa definição, podemos dizer que uma pessoa ponderada é uma pessoa que reflete seus atos, é serena e equilibrada. Uma coisa bem parecida com uma pessoa racional. Ser ponderado tem a ver com ouvir, ser racional e ético; ou seja, é o mais difícil de ser sempre. É, de todos os requisitos, o mais frágil. Deixamos de ser ponderados quando estamos sob forte carga emocional, seja ela boa ou ruim. O que tem a ver a ponderação com os outros três conceitos anteriores? Costumo dizer que a relação da ponderação com a ética diz respeito ao bom caráter do ponderado; no que concerne a racionalidade, costumo dizer que tem a ver com a não precipitação dos atos de uma pessoa ponderada; e, por fim, a relação com saber ouvir diz respeito a ver o que as partes de um conflito dizem para garantir aquilo que se acham no direito de ter – se boa a ponderação, o juiz ou qualquer outra pessoa que esteja no meio de um conflito, seja entre outros ou consigo mesma, tomará uma boa decisão sobre o que está em xeque.

Por fim, analisando tudo o que eu escrevi acima, posso dizer que uma pessoa justa é realmente ética, racional e ponderada, mas também sabe quando usar suas emoções para julgar algo ou alguém. Apesar de a idéia de julgar pessoas não me agradar muito, todos nós fazemos isso sempre, embora muitas vezes inconscientemente. Quero terminar dizendo que o justo é um abençoado por Deus. Nesse mundo cheio de individualismo, é difícil colocar interesses próprios atrás do sentimento de justiça. Bem-aventurados sejam os que são assim. Que Deus os abençoe.

Um comentário:

  1. Ainda bem que vc falou do mundo individualista no final,pq não acredito mais na justiça,o q tá valendo é a grana,queira Deus que essa coisa desumana acabe,e eu espero tanto ver isso um dia...
    Adorei o texto!

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