É tarde, mas algo me tira o sono.
É como se eu vagasse pelas ruas feito um cão sem dono,
Pensando como seria se fosse diferente,
Se estivéssemos juntos agora...
E são mais de três horas da manhã no meu relógio.
Por que é que eu fico até aqui acordado a pensar em ti?
Sono, companheiro meu de todas as manhãs, onde está você?
E tu, bela dama, por que tanto te quero ter,
Se tu estás a milhares de quilômetros de distância
E não posso sequer tocar-te?
E já não me bastam os traumas passados,
Que vêm a mim, a atormentar-me, como um fantasma camarada,
Companheiro meu de todas as noites,
Que me conta aquelas (tristes) histórias de mim mesmo
Antes do meu tardio repouso, agora, vens tu, bela dama,
A querer dividir o meu tempo com meu amigo de ectoplasma,
Tendo, nos últimos dias, um êxito nunca visto por mim.
Onde estás tu, bela dama, neste exato momento?
Como posso saber o que acontece estando eu um Brasil inteiro
Distante de ti? E como podes tu estar ausente em corpo, mas presente
Em toda a minha mente? Em todo o meu corpo exaurido por meus traumas?
Sinto-te tão intensamente quanto estes, como se aqui estivesses e segurasses minha mão,
Minha úmida mão que enxuga as minhas lágrimas geradas sob a luz do plenilúnio.
Tu, bela moça, que está aqui, não saias mais,
Não deixes esse guerreiro cansado de tantas guerras perdidas
E lutadas em vão, por algo que ele acreditou ser verdade um dia.
Tem dó de mim, doce senhorita de sorriso pueril,
Que está a alumiar esta noite sombria.
Fica comigo, dá-me todo o teu mel, ainda que seja fantasiosa a tua presença
Que eu te darei esse coração que é putativamente meu,
E que, de fato, é todo teu.
Daniel de Alcaniz